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Como o nutricionista pode auxiliar no desenvolvimento do comportamento e qualidade alimentar do escolar?

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A idade escolar

Durante a fase escolar, compreendida entre a infância e a adolescência, período que se estende dos sete aos dez anos de idade, meninos e meninas sofrem transformações nos mais diversos âmbitos da vida, desde o físico, biológico e intelectual ao social. (Boccaletto, 2009; SBP, 2006)

Não obstante, é neste momento em que se observa o hábito alimentar da criança, desenvolvido desde seu nascimento, influenciado pelos pais em primeiro plano, pelos familiares próximos, pelos amigos e, potencialmente, pelos profissionais de saúde que a acompanham. (Boccaletto, 2009; SBP, 2006; Ramos & Stein, 2000)

Algumas mudanças que marcam a idade escolar:

  • Crescimento lento e constante;
  • Aumento do tecido adiposo e ganho acentuado de peso, preparando o corpo para puberdade;
  • Aumento do apetite e melhor aceitação da alimentação;
  • Início do desenvolvimento da autonomia nas escolhas alimentares;
  • Maior interesse por alimentos mais calóricos;
  • Aumento da influência do grupo social, mais caracterizado pelos amigos de escola;
  • Ganho notável de coordenação;
  • Troca de dentição com aparecimento dos dentes permanentes.

Formação de hábitos alimentares na idade escolar

Hoje, sabe-se que é durante a vida intrauterina, por meio do cordão umbilical, que o indivíduo inicia suas primeiras experiências alimentares e que, ao longo da introdução alimentar, este processo de descoberta continua com mais intensidade.

Neste sentido, a oferta de sabores, texturas e aromas diversos, já nos primeiros anos de vida, se faz essencial, podendo contribuir para uma melhor aceitação dos alimentos e menor seletividade alimentar no futuro.

O cuidado em relação à alimentação das crianças, todavia, não se limita a este período da vida entre o nascimento e a fase pré-escolar. Este deve estar presente durante toda a formação de hábitos alimentares do indivíduo, que continua na idade escolar, permeada por fatores psicossociais. (Ramos & Stein, 2000)

Como os pais influenciam no comportamento alimentar do escolar?

Enquanto o comportamento alimentar é compreendido como o conjunto de ações relacionado aos alimentos, desde a escolha até a ingestão, o hábito alimentar é definido como a repetição consistente da resposta do indivíduo frente ao alimento.

Diante dessa perspectiva, os pais exercem um impacto enorme sobre a qualidade da dieta e o comportamento alimentar de seus filhos, apesar de haver outras interferências na vida do escolar influenciando a formação de hábitos alimentares. (Vaz, 2014).

Nesta fase, os pais são vistos pelos filhos como modelos.

Portanto, é importante que eles estejam atentos a suas falas e ações, pois ao mesmo tempo em que é criada a oportunidade da família se colocar como bom exemplo e parceira no desenvolvimento de hábitos saudáveis, pode ocorrer também da mesma prejudicar esse processo com determinados comportamentos. (Ramos & Stein, 2000)

Há casos de cuidadores que podem responder ao ganho de peso das crianças (que é comum na idade, até por questões hormonais) com restrição alimentar e, no outro extremo, que podem se utilizar de pressões físicas e psicológicas na tentativa de fazer com que a criança que não tem fome, coma.

Como consequência dessas atitudes, a literatura evidencia desdobramentos negativos sobretudo sobre as sensações de fome e saciedade do escolar, no próprio IMC (Índice de Massa Corpórea), e em outros variados aspectos.

No primeiro caso, de restrição exagerada à alimentação da criança, verifica-se um maior risco a obesidade; no segundo, no qual o escolar é “forçado” a comer, são constatadas maiores rejeições no futuro e menor consumo de alimentos essenciais. (Scaglioni et al., 2018; Boccaletto, 2009).

Além desses exemplos, existem muitos outros, envolvendo também cuidadores autoritários ou permissivos demais ou mesmo indiferentes,.

E é neste ponto que o trabalho do nutricionista ganha maior relevância: destacando atitudes potencialmente prejudiciais para o desenvolvimento do comportamento e qualidade alimentar do escolar e apresentando melhores condutas a serem tomadas com os filhos.

O papel do nutricionista

Mais do que montar uma dieta e/ou aconselhar a ingestão (ou restrição) de um ou outro alimento, o nutricionista que atende o público infantil deve analisar o comportamento alimentar, responsável pela criação dos hábitos finalmente, e orientar as famílias especialmente, tendo em vista a influência que essas exercem sobre as crianças.

Assim, cabe ao nutricionista esclarecer a responsabilidade dos pais sobre a alimentação dos filhos ao longo de toda a idade escolar e guiá-los adequadamente, para que estes desempenhem um impacto positivo sobre seus comportamentos e escolhas alimentares.

Do que se tem descrito, o estabelecimento de práticas simples e eficazes poderia ser sugerido, neste sentido, como as seguintes:

Realizar as refeições em família

  • São cenários naturais onde os pais podem manejar o comportamento do filho, além de garantir maior interação com a criança;
  •  Refeições em família com mais frequência podem promover um maior consumo de alimentos nutritivos;

Promover um ambiente calmo e tranquilo durante as refeições

  • É importante que nesse momento a criança fique livre de qualquer distração que possa tirar o foco da refeição;
  • Crianças que costumam assistir televisão durante as refeições, tem maior tendência para consumir menos alimentos nutritivos, como frutas e vegetais.

Diversificar o cardápio da casa

  • A monotonia alimentar pode dificultar o interesse da criança pelo alimento;
  • Procure oferecer refeições com maior variedade de cores e texturas, pois são condições importantes para aceitação do alimento. (Scaglioni, 2018; Boccaletto, 2009; Wardle, 2001; Finnane et al. 2017)

Pequenas mudanças, como as supracitadas, podem desencadear resultados surpreendentes, devendo sempre serem lembradas e encorajadas no momento da consulta.

A importância dos lanches dentro da alimentação do escolar

O escolar deve preferencialmente seguir o padrão alimentar da família, com a realização de ao menos três refeições diárias, compostas pelos diferentes grupos alimentares, respeitando suas preferências, aversões e/ou intolerâncias.

Se recomenda, ainda, a realização de lanches intermediários, como uma forma de garantir todos os nutrientes necessários ao crescimento adequado da criança e energia para que possa brincar e se manter ativa fisicamente.

Os lanches, por sua vez, não devem ultrapassar 20% do valor energético total da dieta e, como o restante da alimentação, deve ser composto por alimentos variados, abrangendo:  uma bebida, para reposição hídrica; frutas; um alimento fonte de carboidratos (preferencialmente complexo), garantindo energia, e outro de proteína, com destaque aos lácteos.

Sugestões para a montagem da lancheira

A montagem de lancheiras pode ser um momento de conexão e troca quando feita em família, podendo ser estimulada pelo nutricionista ao disponibilizar para os pais as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016) relacionadas ao tema de:

Fazer um planejamento semanal com os itens que irão compor a lancheira

  • Facilitando na hora de comprar os alimentos
  • Evitando os “improvisos”

Montar a lancheira junto com a criança

  • Estimulando a autonomia da criança
  • Criando a oportunidade para ensiná-lo sobre a importância de comer certos alimentos

Incluir frutas, vegetais e alimentos integrais

  • Quanto antes introduzidos, mais chances deles fazerem parte da alimentação
  • Não deixe de mandar caso a criança não aceite de primeira, a familiaridade com o alimento ajuda na sua aceitação. (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2006; Finnane et al. 2017)

Referências

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento de Nutrologia. Manual de orientação: alimentação do lactente, alimentação do pré-escolar, alimentação do escolar, alimentação do adolescente, alimentação na escola. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 2006. 64 p.

Boccaletto, E., Mendes, R. Alimentação, Atividade Física e Qualidade de Vida dos Escolares no Município de Vinhedo/SP Ano publicação: 2009 ISBN: 85-98189-22-2 Editora: Ipes Editorial (Orgs.)

Ramos, M. Stein, L. Desenvolvimento do comportamento alimentar infantil. J. pediatr. (Rio J.) ; 76(supl.3): S229-S237, dez. 2000. Disponível em: http://189.28.128.100/NUTRICAO/DOCS/ENPACS/PESQUISAARTIGOS/DESENVOLVIMENTO_DO_COMPORTAMENTO_ALIMENTAR_INFANTIL_RAMOS_2000.PDF

Wardle J, Sanderson S, Leigh Gibson E, Rapoport L. Factor-analytic structure of food preferences in four-year-old children in the UK. Appetite. 2001 Dec;37(3):217-23. doi: 10.1006/appe.2001.0423. PMID: 11895322.

Finnane JM, Jansen E, Mallan KM, Daniels LA. Mealtime Structure and Responsive Feeding Practices Are Associated With Less Food Fussiness and More Food Enjoyment in Children. J Nutr Educ Behav. 2017 Jan;49(1):11-18.e1. doi: 10.1016/j.jneb.2016.08.007. Epub 2016 Oct 1. PMID: 27707544.

Scaglioni S, De Cosmi V, Ciappolino V, Parazzini F, Brambilla P, Agostoni C. Factors Influencing Children’s Eating Behaviours. Nutrients. 2018 May 31;10(6):706. doi: 10.3390/nu10060706. PMID: 29857549; PMCID: PMC6024598.

Sociedade Brasileira de Diabetes. COLUNA VERDADEIRO OU FALSO #30 Como montar uma lancheira saudável? Acesso em: 02/06/2022. Disponível em: https://diabetes.org.br/coluna-verdadeiro-ou-falso-30-como-montar-uma-lancheira-saudavel/

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